O Canadá "não será dissuadido" pelas ameaças de represálias da China se Ottawa proibir a Huawei de fazer acordos 5G, diz ministro

18/01/2019 23:57

O ministro da Segurança Pública, Ralph Goodale, diz que o Canadá "está na base do estado de direito" e não comprometerá a segurança nacional Seus comentários vêm depois que o embaixador chinês Lu Shaye alertou sobre a retaliação ao Canadá, se o mesmo impedisse a Huawei de participar de redes 5G. 

O ministro da Segurança Pública do Canadá disse na sexta-feira que o país não será dissuadido por pressão chinesa,  mesmo se a China ameaçar represálias caso a Huawei for proibida de fornecer equipamentos para redes 5G, destacando a crescente divisão entre Ottawa e Pequim.

Há acusações de que o gigante das telecomunicações é controlado pelo Partido Comunista da China sendo usado para facilitar a espionagem chinesa. Os EUA, a Austrália, o Japão e outros governos impuseram restrições ao uso de sua tecnologia(Huawei).

O ministro da Segurança Pública, Ralph Goodale, disse que o Canadá está ciente que não comprometerá a segurança nacional.

"É um desafio difícil, mas não seremos dissuadidos pelo que acreditamos ser certo e pelo que acreditamos ser do interesse do Canadá", disse Goodale. Lu Shaye, embaixador da China no Canadá, advertiu quinta-feira de repercussões se o Canadá impedir a empresa de usar sua nova rede 5G.

O Canadá e suas agências de segurança estão estudando se devem usar equipamentos da Huawei, já que as operadoras de telefonia se preparam para implantar a tecnologia de quinta geração.

O 5G foi projetado para suportar uma vasta expansão de redes para facilitar dispositivos médicos, carros autônomos e outras tecnologias. Isso aumenta o risco de possíveis falhas de segurança e levou os governos a tratar as redes de comunicações de telecomunicações como ativos estratégicos. 

Mas a prisão da executiva da Huawei, Meng Wanzhou, no Canadá, em 1º de dezembro, a pedido dos Estados Unidos, criou um crescente abismo diplomático entre a China e o Canadá. Meng é  diretora financeira da Huawei e a filha de seu fundador.

Os EUA querem que ela seja extraditada para enfrentar acusações de que ela cometeu fraude enganando os bancos sobre negócios da Huawei no Irã.

A China deteve o ex-diplomata canadense Michael Kovrig e o empresário canadense Michael Spavor, por 10 dias após a prisão de Meng por alegações de que eles estavam se engajando em atividades que põem em perigo a segurança nacional da China em uma aparente tentativa de pressionar o Canadá a libertar Meng.  A China também condenou outro canadense, Robert Schellenberg, à morte na segunda-feira, em um novo julgamento de seu caso onde ele é acusado de contrabando de drogas.

John McCallum, embaixador do Canadá na China, disse que o caminho que a China está seguindo não é interessante

"Não é do interesse da China corporativa que, quando enfrentam problemas internacionais, o governo chinês prenda pessoas para usá-las como moeda de barganha", disse McCallum. "Essa é a percepção de grande parte do mundo e isso não é bom para a reputação dos empresários chineses."

Na quinta-feira, Lu alertou a Ministra de Relações Exteriores do Canadá, Chrystia Freeland, a não usar a reunião do Fórum Econômico Mundial da próxima semana em Davos, na Suíça, para pressionar por apoio contra a China. Ele também disse que a prisão de Meng no Canadá foi um ato de esfaqueamento pelas costas feito pelo Canadá e o chamou de "politicamente motivado".

Freeland disse que a detenção de dois canadenses estará no topo de sua agenda em Davos e não recuou de sua posição depois de ouvir sobre a observação do embaixador. 

Canadá mantém a prisão de Meng é uma questão de Estado de Direito e diz que está agindo de acordo com o tratado internacional

"Somos uma nação que se baseia no Estado de Direito, baseia-se nos princípios pelos quais lutamos e trabalhamos em todo o mundo", disse Goodale.

A imagem da Huawei sofreu um novo golpe na semana passada, quando as autoridades polonesas anunciaram que um funcionário chinês foi preso por acusações de espionagem. A Huawei disse que demitiu o funcionário e que as alegações não tinham relação com a empresa.

Meng está agora sob fiança no Canadá e aguarda processos de extradição. Uma audiência está marcada para o próximo mês.

McCallum disse que sua principal prioridade é levar os canadenses para casa e salvar a vida do terceiro canadense. Ele informou os parlamentares no Parliament Hill na sexta-feira e disse que esteve conversando com empresas canadenses que trabalham na China. Ele ainda acha que a China terá um papel importante no futuro do Canadá, observando que a indústria do turismo, os agricultores e as universidades do país são altamente dependentes da China.

"Acho que é melhor seguirmos em frente o quanto pudermos, dadas as circunstâncias", disse ele.

O Canadá já havia falado em fazer uma possível negociação livre com a China, mas McCallum disse que essa não era uma questão que o Canadá estava considerando agora.

Fonte: South Chine Morning Post